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Crianças acolhidas... sem diagnóstico e sem pais

Continuo intrigado pela dificuldade que existe no nosso sistema de protecção em desenvolverem-se respostas de acolhimento temporário ou de emergência que sejam verdadeiros centros de avaliação diagnóstica orientados para a saúde mental da criança.

Vasculhando alguns livros do Eduardo Sá já com alguns anos, verifico que ele já falava há uns tempos da necessidade de criarem-se verdadeiros serviços de urgência um pouco à semelhança dos serviços de urgência hospitalares. Eduardo Sá defendia serviços ricos em recursos técnicos e de diagnóstico capazes de em poucas horas estancarem a hemorragia que uma retirada do meio familiar provoca sempre numa criança e avaliarem as competências da família de forma a desenharem de imediato um plano de intervenção.

Com pena verificamos que continuamos a cair numa dicotomia de bons e maus pais e numa visão simplista que vê o acolhimento como uma espécie de salvação onde as crianças são salvas pelo afastamento da família.

Há alguns anos que os hospitais pediátricos, atentos aos trabalhos de Bowlby sobre a vinculação e em particular a um filme realizado por James Robertson, um psiquiatra da Clínica Tavistock, intitulado "A Two Year Old Goes to Hospital" (1952), mudaram por completo o modelo organizacional dos serviços de Pediatria. Hoje em dia qualquer serviço de Pediatria aprendeu a viver com os pais dia e noite, e passou a proteger a saúde mental da criança colocando preferencialmente a seu lado a sua figura de vinculação.

O que é curioso é que a mesma teoria que serviu de base à mudança nos Serviços de Saúde, e que hoje é indiscutível, seja completamente negada no sistema de protecção. Um bom exemplo disso são os centro de acolhimento em que os pais só podem agendar uma hora de visita por semana às crianças e que não permitem que os pais acompanhem as crianças nas suas rotinas.

PVS