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Branco mais branco não há

“Branco Mais Branco Não Há” era um excelente slogan, se bem me lembro, de uma marca de detergente de roupa (acho que continha lixívia?!), que fazia jus às propriedades vorazes do detergente e emulsionar qualquer gordura e nódoa.

“Branco Mais Branco Não Há” é também o slogan de muitas instituições de acolhimento de crianças em Portugal que defendem de forma quase fundamentalista as amplas paredes de cor branca em conjugação com o chão muito bem higienizado a evaporar lixívia. Já tive a oportunidade de visitar diversas instituições em Portugal e no estrangeiro e acreditem: as nossas instituições ganham aos pontos em brancura. Rico país este dos detergentes!!!

O branco, de todas as cores, é talvez a menos afectiva, a mais fria, a que remete para o inferno gélido de Dante e para o vazio relacional. Pastourer (1993), na sua obra Dicionário das Cores do Nosso Tempo: Simbólica e Sociedade, refere que o Branco enquanto ausência de cor remete para:

a) Os fantasmas, as aparições. A morte.
b) O medo, a inquietação.
c) O grau zero da cor. A oposição preto e branco / cores.

Óbvio que o branco também remete para castidade, pureza, virgindade, santidade e muitas outras formas simbólicas associadas à ausência.

Ao seguirmos esta simbólica das cores somos obrigados a reflectir que as paredes das instituições de acolhimento de crianças em Portugal parecem cumprir o enorme esforço de espelhar objectivamente os vazios e as ausências que as crianças carregam nas suas histórias pessoais.

Diria mesmo que as paredes nas nossas instituições tendem a desempenhar um exorcismo competitivo com as crianças acolhidas do tipo quem será o mais branco, eu (parede) ou tu (criança). É pena verificar que muitos dos adultos neste concurso esforçam-se arduamente para garantir que a vitória está do lado das paredes.

Ah!! Acho que vou comprar uma lata de tinta vermelha, afinal sempre gostei das pranchas II e III do Rocharch.

PVS