Avançar para o conteúdo principal

Pais a pedirem ajuda às CPCJ's

Hoje o Diário de Notícias publica uma notícia que dá que pensar. No total dos casos sinalizados às Comissões de Protecção 8,8% (2342) a sinalização é realizada pelos pais. Estamos falar de um número crescente de pais de crianças e adolescentes que confrontados com comportamentos pouco adaptativos dos seus filhos e sem respostas de apoio na escola e na área da saúde mental infanto-juvenil vêem-se obrigado a recorrer ao sistema de protecção. Nos casos mais graves, nos quais os pais já estão verdadeiramente exaustos e sem saber como reagir ao comportamento desadequado dos filhos, chegam mesmo a pedir o internamento da criança ou jovem. A resposta fácil a este problema é atribuir de forma simplista a responsabilidade dos comportamentos desadequados aos pais. Não raras vezes ouvi a pergunta que tipo de pai ou mãe pede para o filho ser acolhido.


Arrisco-me afirmar que talvez os melhores.

Devemos perceber que muitos dos pais e mãe que batem à porta das Comissões de Protecção são pais de crianças problemas graves na área da saúde mental, crianças doentes. Os pais batem a esta porta eles próprios à procura de uma última esperança. Muitos já foram a consultas esporádicas de pedopsiquiatria ou de psicologia no hospital ou no centro de saúde, contudo sabem que os comportamentos menos adequados não mudaram.

Quando abrimos a porta a estas famílias devemos ter a noção que estão exaustas, frustradas, que precisam de ser apoiadas como qualquer família que vive diariamente com a violência da doença mental dentro de portas.

Um dos perigos deste fenómeno de “canalização” dos problemas de saúde mental para o Sistema de Protecção por ausência de serviços especializados é possibilidade de se criar um excesso de processo no sistema de protecção que o torne ineficaz e pouco orientado para sua verdadeira missão de protecção de crianças e jovens vítimas de diferentes formas de maus tratos (negligência e abuso).

Parece-me que uma interpretação lata do conceito de Perigo de forma a conter dentro do sistema todas as crianças e jovens que assumem comportamentos que não são contidos pelos pais, irá levar rapidamente sobrelotação do sistema e à sua possível inoperacionalidade.

Fica a sugestão para dotarmos a nossa sociedade de respostas válidas na área da saúde mental infantil e juvenil que funcionem, tanto ao nível de prevenção primária, secundária e em último caso ao nível da prevenção terciária.

Pedro Vaz Santos